Sunday, January 21, 2007

ORDENS NO REINO

Ao ouvir os comentários de quem fala sobre a atual política cearense, dá-se conta de que as indicações do secretariado do governo de Cid Gomes (PSB) têm bem mais nomes ligados ao senador Tasso Jereissati (PSDB) do que se possa imaginar. Nada de anormal, uma vez que tudo leva a crer que a política da união pelo Ceará foi reeditada - resta saber se como tragédia ou comédia, como diria o velho, porém lúcido comunista, Karl Marx.
É que o novo governo deu o ponta pé inicial de sua administração de forma desastrosa, quando anunciou não ter dinheiro para efetuar o pagamento do funcionalismo público. O fato de o pessoal das empresas terceirizadas perder o emprego, no duro, não foi o mais grave, embora a medida não seja das mais simpáticas. Espera-se ainda a ronda policial pelos quarteirões - essa sim é a grande esperança do povo.
Calma! O governo está apenas começando. Talvez seja o caso de baixar a bola e fazer o jogo do feijão com arroz, afinal, o time precisa adquirir entrosamento. Qualquer cidadão de bom senso, sem perder a visão crítica, sabe que o governo necessita de um tempo para ganhar ritmo administrativo e, consequentemente, a confiança dos cearenses.
Isso não quer dizer que, volta e meia, não ressurja a curiosidade em olhar pelo retrovisor da história. E não é difícil identificar personagens udenistas e pessedistas de triste lembrança. O difícil é acreditar que cabe ao Partido dos Trabalhadores (PT) o papel de defender um governo burguês. Em circunstâncias outras, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) deu início à decadência e ao descrédito junto à classe trabalhadora ao compactuar de uma aliança espúria com o então ditador Getúlio Vargas.
Mas o que dizer, se a modernidade política decretou o fim da luta de classes? Assim, sem utopia, o neo-populismo persegue os melhores índices administrativos. Com projetos em pauta, as metas do velho reformismo estão em evidência. Maquiavel ganha novas cores, cada vez mais sutis e inteligentes, para reafirmar que quem perde pode muito bem continuar dando as ordens do reino.


Saraiva Júnior,Auditor Fiscal do Trabalho

Monday, January 08, 2007

NOITE SEM TROFÉUS

No interior do estado, em cidades como Quixadá (168 km de Fortaleza), por exemplo, costuma-se falar que “fulano anda político com sicrano”. Nesse caso, o termo “político” tanto quer dizer que são radicalmente inimigos, como também pode expressar o fato de que estão confabulando, chegando a um consenso e, talvez, até armando tramóias contra o povo.
Passadas as eleições, empossados os eleitos, resta a expectativa das promessas a serem cumpridas. Essa ressaca generalizada da população em estado de espera não engrandece a democracia visceralmente dinâmica e crítica. Aliás, tal letargia política pode ser um prenúncio de uma noite sem troféus.
Como os governos aliancistas de Cid Gomes e de Lula não estão deixando espaço para as oposições, é bom que as rondas policiais nos quarteirões sejam efetivadas, que o pagamento dos professores se realize e que os nós destravem o crescimento para se tornarem, de fato, uma realidade urgente. Pois, do contrário, restará ao povo as ruas.
Tudo fora de tempo pela ação incompetente dos políticos. E, em assim sendo, até a oposição amadurecerá às avessas, ainda que tardiamente. Em vez de discursos lacerdistas, de bravatas chulas, como as dos ex-senadores Antônio Carlos Magalhães (PFL) e Heloísa Helena (PSOL), nascerá das vozes roucas e dos movimentos sociais em meio à multidão a qualidade dialética da democracia participativa.
Por enquanto, a bem da verdade, a iniciativa política oposicionista no Brasil ainda é uma quimera. Ela continua a reboque do golpe de mestre dos políticos profissionais da burguesia. Por isso que o ditado popular da gente simples do sertão, quando vê políticos, antes adversários, conversando, continua tão ironicamente em vigor.



Saraiva Júnior
Auditor Fiscal do Trabalho